Reflexões do Décimo Oitavo Andar.

18:05:00

Aqui na Tuiuti há diversas árvores centenárias que do alto do décimo oitavo andar são minúsculas. Meu apartamento diminui tudo. Há também pessoas que aparentam ser centenárias e conhecedoras da história - pela experiência de quem viveu. Há quem passa todos os dias pela rua dando altas gargalhadas, há escolas, uma papelaria, um shopping, um metrô, uma igreja, uma praça. Eu também existo nessa rua, mesmo sendo tão bege como as árvores centenárias, as pessoas centenárias, as escolas, a papelaria, o metrô e etc, etc, etc.

Eu sinto que se esses sujeitos inanimados pudessem conversar comigo algo muito além do ''bom dia/boa tarde/boa noite'', eu ouviria poucas e boas sobre mim mesmo. Pode ser que o discurso do grupo dos centenários se resuma a dizer que sou jovem e pouco sei, que tudo passa e que é só uma fase. Há nessa fase um infinito tão grande perto da minha finitude que parece que ela olha pra mim do décimo oitavo andar e eu, pequeno como formiga, nem estou reparando.

Há coisas vazando da minha mão aqui da minha janela do décimo oitavo andar, eu não posso pular pra buscá-las, o tempo as levou e eu as perdi (como sempre aconteceu). Há lágrimas que escorrem, há poeira em cima da televisão e um papel jogado no chão. Tudo aqui é tão pequeno que às vezes julgo ser o meu coração perdido por aí. Quase sempre é só uma bola de papel que não preenche o oco que existe aqui. Que difícil viver, que difícil ser eu, todos riem, todos compram, todos passeiam, todos envelhecem, todos conquistam, todos morrem e ressuscitam e eu estou aqui, com um caderno de desenho e uma caixa de gizes de cera desenhando quem sou: eu sou só uma bolinha de papel perdida na rua sendo observado do décimo oitavo andar. Ninguém me enxerga mais.


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