Overdose.

17:53:00

Hoje a vida só não está mais morta que o próprio Théo. Ele riria dessa piada se pudesse.

Quando tudo se esvazia, como uma descarga sanitária, e eu volto a ser pó durante uns dias, semanas ou meses, eu acabo voltando e olhando pra trás com medo dos monstros à frente. Às vezes eu não sei voltar. Às vezes eu corro rápido demais para o sentido oposto querendo, vorazmente, uma sublimação que me leve a evaporar.

''Você já pensou em tentar por mais uma vez, achar outro alguém que lhe queira também? Não é todo rio que tem o mar pra se encontrar, dá pra evaporar e encontrá-lo através do ar.''

Talvez eu tenha de virar ar pra encontrar as respostas das minhas questões. Alguém se foi e nem me explicou o motivo. Eu chorei e ainda há dentro de mim um rio querendo encontrar seu mar, quem me garante que eu não vou vazar se eu mesmo não posso fazê-lo? Eu estou caindo do 18º andar há algum tempo e, caído, tenho de me levantar para recolher meus próprio restos e limpar a sujeira carniceira que faço.

Eu estou me transformando em um zumbi, andando sedento de algo que não sei o que é, com urubus esperando que eu caia. As minhas feridas, já suturadas, estão infeccionadas, novamente, pela explosão que eu sou. Eu não sei lidar. Sair da BirdHouse foi duro, decepante e mais do que isso: desorientante.

Há em mim muitos sonhos, muito sono e uma vontade de jogar os tarjas preta dentro de um suco e despertar dentro de um espaço de tempo chamado ''nunca mais''. Nunca mais ouvi falar. Nunca mais ouvi dizer. Nunca mais apareceu. Nunca mais escreveu. Nunca mais viveu. Nunca mais me lembrei. Nunca mais. Talvez a overdose seja a súplica por alívio dos que tiveram de sobreviver dopados, a gana, a busca, o desejo: overdose. Eu estou sendo pisoteado por quem corre na busca e não desiste, por quem não tem medo dos monstros à frente, por quem não vai parar pra recolher meus restos.

Reclamo baixinho da minha situação. Os céus se cansaram das minhas lamúrias, o inferno não me julga alto o suficiente para tal regalia. Eu estou vivo e estou no limbo. E você, meu amor - meu defunto? Você que morreu, onde está? Nós nunca nos reencontraremos mesmo? Eu estou cansado do seu silêncio.

Nunca mais falou comigo e eu nunca mais direi o que preciso: uma overdose de você.

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