Luto

17:18:00

A pior morte é a de quem continua vivendo.

Ter de lidar com dois lutos tem me consumido. Eu não estou bem, eu vou desmoronar. Que horrível a sensação de saber que o fim acontece tão abruptamente e não nos deixa escolha, a única saída é continuar contra o vento frio da solidão. É como estar em gestação sem nada no ventre, há algo ali que não existe e mesmo assim nos move sentimentos. Que tempos horríveis eu escolhi pra viver.

Eu construí pontes entre duas rochas e as duas precisaram virar ar. Todos querem provar o sabor da liberdade. E o meu tem sido amargo. Eu sei que eu errei e que fui falho, muito falho, eu sei que eu cometi atrocidades contra mim mesmo e contra os outros e o preço da crueldade está sendo pago em suaves prestações.

Cada dia sem o Théo ou o outro me doem. Eu perdi duas grandes pessoas por aborrecimentos internos e uma falta de coragem de encarar a realidade dos fatos. Eu tentei mostrar o meu valor e desvalorizei o que realmente importa. Eu perdi tempo, muito tempo! E tempo é algo que não se consegue recuperar, uma volta no relógio nunca é a mesma, já dizia minha avó.

Eu quero a redenção da vida e a oportunidade de voltar atrás. Eu quero me virar e correr no sentido contrário. Às vezes dar um passo atrás é melhor do que dois à frente. Eu só vou conseguir crescer quando me livrar do luto e venho lutando há muito.

Dói. Bastante. A cada dia umas facas são amoladas no meu peito e meu sangue me mancha todo. Eu estou arrebentado e não tem ninguém para dizer ''Calma Philippe, tudo vai se resolver, eu estou aqui.'' Não tem ninguém aqui, não tem ninguém lá. São meras lápides no cemitério da vida que tenho que florear e acender minhas velas. Minhas preces são pra que eu consiga continuar sobrevivendo mesmo que a morte seja tão presente.

Me perdoem, meus amores. Eu fui covarde. E hoje eu sei a dor do luto. Eu também estou morrendo...

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