Há uma carta.

18:34:00

Há uma carta:
Intacta,
Manchada pela cola bastão
E sem selo...
Apenas meu nome no destino.
Que destino me reserva
Esse envelope amarelado
Que embrulha as palavras
De um defunto
Que tanto prezei?
Não prezo pelo morto.
Já que. em tempos. ele
Não viverá
Nem mesmo em memória.
Somente na lápide,
Em mármore escuro
Repousarão suas cinzas,
Seu nome,
E seu poema favorito de Drummond.
Que me escreveu o morto
Que me faz falecer todo dia?
Será que me faz repensar
O que já repensei?
Ou me faz reacreditar
No que já desacreditei?
Há amor? Afeto?
É amizade? Despedida?
Que diabos há dentro do envelope
Que no toque sinto a energia
De algo que precisou ser dito
E nunca o foi?
Há uma carta.
Selada pela morte de meu bem.
Carimbada pelas palavras
Que hoje tenho de engolir.
Enviada pelo ar
Onde um dia nos encontraremos.
Não sei do que se trata,
É apenas uma carta
Que nem abri,
Mas já me marca.

You Might Also Like

0 comentários

Subscribe