50.

18:14:00

     Eu fechei o ''Fdp Em Apuros'' na esperança de não precisar mais escrever. Aquele blog no wordpress, além de ser difícil de mexer, me remetia a tudo que me propus a esquecer este ano. E não esqueci. Fechei-o na esperança de que meus pensamentos se aquietassem e eu pudesse repousar em profunda paz de espírito. Escrever é uma válvula de escape do tormento da mente. Ao contrário disso, dias depois minha cabeça fervilhava na sede por palavras. Tentei usar o papel a caneta, fui vencido por um braço que não acompanha os impulsos do cérebro. Voltei para o teclado do computador. E criei o ''Enfeite do Meu Ser.''
     Hoje já são cinquenta postagens, contando os Artigos Científicos que meus amigos escreveram, e o meu, que não deixam de ser a expressão do pensamento, que me trouxeram aqui. Ferido. Escrever só abre um pouquinho mais as escaras que guardo no peito. É como se eu passasse os dias vestindo uma camisa que, quando aberta em frente o espelho, revela as cicatrizes da minha pele. As palavras são radioativas e cancerígenas, todavia não tenho medo de morrer nas mãos delas.
     Vivi dias gloriosos, é bem verdade, mas as noites em que chorei duraram anos. Sozinho, ali, entre o vento frio e o travesseiro apertado nos braços, é que pude realmente me conhecer. Eu sou nu. Nu de qualquer proteção contra o tempo, quem somos nós senão caricaturas de nós mesmos? Quando eu fico sozinho minha cabeça fervilha. Eu nunca evaporo. Sinto o desejo intrínseco de escrever e me tornar quem não sou: poeta. E é aqui que me faço ser quem quero ser. Talvez ninguém leia meu discurso apaixonado, triste, neurótico, esquizofrênico e solitário. Mas eu preciso dize-lo fechando os olhos e ouvindo as palmas dos anjos. Clap, clap, clap.
     Você, - , me fez voltar a escrever. Me fez retornar a essa tortura que é transpô-lo nas palavras do português. Quisera eu ler-te a teu reflexo vivo. Tua presença é mero acaso, mera consequência das circunstâncias. E quando eu me preparo para lhe dizer adeus, alguém entra em nosso meio separando nossas mãos, como se fosse um sinal de ''Vai, sai, anda logo!''. Não estou acostumado com as brutalidades da vida, mas eu ando, para que quem me mande embora seja feliz - meu desejo é ver o sorriso dos outros. Ando, só não sei pra onde. Podem me tirar tudo, eu sou um mero nu...Mas enquanto houver palavras pra amaciar os meus tombos e travesseiro para me abraçar no desespero, haverá o Enfeite do Meu Ser.

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