A irresponsabilidade social e a fraternidade adiada para o sempre.
16:42:00
“Só existem duas coisas infinitas:
o universo e a estupidez humana”
Albert Einstein.
Ao cair da noite, um homem, estabilizado em sua função de radialista esportivo, cercado de colegas de profissão partidários de suas opiniões políticas de embasamento questionável faz uma piada em áudio disponível à qualquer pessoa que ligasse o rádio onde a graça era a de que cairia muito bem se uma visita presidencial ao estádio Itaquerão resultasse numa tragédia envolvendo guindastes e ocasionando a morte da respectiva presidente da república Dilma Rousseff.
A rigor, de acordo com a Constituição Federal não é possível achar irregularidades, tão pouco descumprimento da lei. Pelo contrário, está dentro dos regimentos do Art.5º, Inc. IV, CF/88 onde está prevista a liberdade de expressão e manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. Ao mesmo tempo, percebe-se a falha na execução prática do Art.3º, Inc. I, que por sua vez propõe a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Ou seja, os princípios da justiça, solidariedade e liberdade envolvido quase pelo manto brilhante dos mesmos princípios iluministas do século XVIII (liberte, égalité, fraternité) se confrontam hoje com a confusão que se tornou a promoção da liberdade de expressão à qualquer preço, principalmente quando se considera a nova era das redes sociais virtuais. Ao passo que se conquistou a considerável liberdade e a igualdade política (política!) após a ditadura, a fraternidade ainda parece um ponto minúsculo ao fim de um longo túnel, para os otimistas.
Nos aprofundemos na questão da fraternidade: este pilar de uma aparente situação equilibrada nos direitos e deveres políticos de cada um ainda se mostra obscura, tendo em vista sua subjetividade e abstração inalcançável por uma constituição federal. E então o impasse! Quem há de ficar responsável pela bendita fraternidade em um país cuja pequena classe mais abastada se mostra intolerante à uma política social que representa 0,4% do PIB e atinge 14,1 milhões de famílias? Porque irá de ser fraternal a nova soma das classes A, B brasileiras, que representam 15,5% e em sequência uma classe C de mais de 100 milhões de pessoas que tem aumentado sua renda ano após ano e deixado se esvair da mente suas origens de classe D ascendente?
Em maior escala, se a Constituição Federal prevê o esforço do governo vigente em cumprir as metas como Estado soberano, isto é, promulgando a liberdade, justiça e principalmente a solidariedade, espera-se que em um médio e longo prazo este transpasse à seus respectivos cidadãos ao menos a vontade e o dever de praticar e estabilizar tais princípios legais. Para tanto, somente o esforço do Estado não é suficiente para atingir à todos, é preciso de grandes veículos midiáticos para que atinja o maior número de pessoas. Pois bem, então analisemos todo o grande esforço midiático em distribuir bons valores, justiça social, paz e desenvolvimento em geral como sociedade, a fim de se alcançar níveis de excelência tais quais os estimados e brilhantes índices europeus sempre apontados como inalcançáveis por um país como este. Sem muito precisar filosofar, percebe-se o grande esforço da mídia em desbancar um único partido político, este que dirige a união há 11, 12 anos. Talvez a grande questão central disso tudo, é o fato desses mega veículos ensinarem somente o discurso do ódio, do sarcasmo vazio, da justiça feita pelas próprias mãos, da banalização da vida, do sexo, da violência, dos direitos humanos como um todo.
Para o encerramento desta observação, deixo a célebre passagem de Renato Russo:
“Ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação.”
Fábio Baena
Gestão de Políticas Públicas
Universidade de São Paulo
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL (2014). Bolsa Família atende a mais de 14,1 milhões de famílias em abril.
VERAS, Camila (2013). Ipea: cada R$ 1 gasto com Bolsa Família adiciona R$ 1,78 ao PIB. Revista Valor Econômico.
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