Ame-me, somos todos humanos!

16:27:00

                                                                                                                  Por Valéria Rie*

     “Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
      VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo” (Constituição Federal de 1988)
      A onda de manifestações racistas promovidas no futebol desde fevereiro de 2014 com jogadores sendo chamados de macacos pelas torcidas e bananas sendo arremessadas no gramado, evidenciou todo o repúdio da população brasileira a discriminação racial. Desde a autoridade máxima do país, passando pela mídia até o cidadão comum, todos se horrorizavam com tais atos. Justamente por isso, no início deste artigo é abordado o Art. 4º CF/88, pois como descreve na nossa Carta Maior, o Brasil no cenário internacional possui uma posição de aversão a toda e qualquer ação a qual demonstre racismo. Entretanto, ironicamente, esta nação em seu carácter intrínseco é extremamente racista e os fatos que rendem notícias aos jornais e dores às famílias comprovam esta afirmação.
      O linchamento de Fabiana Maria de Jesus – notícia mais recente divulgada pela mídia brasileira – denota o preconceito e racismo da população brasileira. Devido a uma notícia publicada em uma rede social, a moça foi espancada até a morte ao ser confundida com alguém que assassinava crianças em rituais de magia negra. Este fato traz duas reflexões: 1º. Repudiamos a cultura africana como os senhores brancos e os cristãos faziam no Brasil Colonial. O termo “magia negra” foi designado pelos moradores da Casa Grande para aludir aos cultos e liturgias religiosas dos trabalhadores da Senzala, maioria de etnia negra. 2º. Como indica a redação do Art. 1º CF/88, somos um Estado democrático de direito. Portanto, o que confere a um cidadão o poder de praticar a justiça com suas próprias mãos? Caso o fato fosse verdade, se Fabiana realmente mantinha tais práticas, isto não a desclassificaria como uma cidadã portadora de direitos e ninguém poderia machucá-la e torturá-la, pois de acordo com o Art.5º CF/88, inciso III: “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Infelizmente, este foi só mais um caso racismo e intolerância e, provavelmente, não será o último.
      Em meio a todo este cenário de racismo no futebol e no cotidiano, surge na internet um movimento contra o racismo chamado “#Somos todos macacos” o qual teve início pelo jogador Neymar e, soubemos depois, que foi fruto de uma campanha publicitária. A frase “Somos todos macacos” traz uma ideia de que somos todos iguais. Qualquer pessoa com mínimo de senso crítico pode dizer, não somos todos macacos, nem iguais, como a frase sugere. Somos todos humanos e temos nossas diferenças genotípicas e fenotípicas, mas, independentemente disso, deveríamos ser tratados sem discriminação étnica. Contudo, na realidade é perceptível que uma pessoa negra não é tratada como uma de uma branca e nem possui as mesmas condições de igualdade. Vejamos um fato, dentre muitos, o qual comprova esta assertiva:
      Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): “ a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior do que um branco. Pelo levantamento, a expectativa de vida de um homem brasileiro negro é menos que a metade a de um branco. Os dados mostram que, ao nascer no Brasil, o homem negro perde 1,73 ano de expectativa de vida por causa da violência, enquanto para o branco esse número cai para 0,71”.
      Os números acima refletem uma dura realidade: desde o nascimento, uma pessoa negra possui uma expectativa de vida menor por causa da violência e maior probabilidade de ser assassinado. Isto significa que as maiores vítimas da violência deste país possuem face: negro e jovem. Isto é inadmissível!
      Como demonstram estes fatos somados às manifestações de racismo no cotidiano e no futebol, estamos longe de alcançar um dos objetivos fundamentais desta nação como é descrito no Art. 4º inciso IV da CF/88: “Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Mas, eu acredito que iremos alcançar este objetivo. Contudo, para isto acontecer precisamos mudar nosso paradigma cultural. Chega de sermos uma nação na qual prevalece a máxima de George Orwell na obra “Revolução dos Bichos”: “Todos os bichos são iguais. Mas, alguns bichos são mais iguais que outros” (ORWELL, P.106, 2011). Basta desta intolerância e desigualdade étnica! SOMOS TODOS HUMANOS!
      “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.
Nelson Mandela

*Valéria Rie é estudante de Gestão de Política Públicas na Universidade de São Paulo (USP).

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