Sobre morar em São Paulo
14:50:00
Onde
moram os cidadãos da cidade de São Paulo? Uma cidade que abriga
11,8 milhões de habitantes, de acordo com o IBGE 2013.Não é
difícil responder essa questão ao olhar atentamente o cotidiano da
metrópole paulistana. Pelo contrário é fácil perceber o fluxo de
seus cidadãos. Logo pela manhã grande parte dos trabalhadores e
estudantes da cidade se dirigem para as regiões centrais de São
Paulo, como podemos ver no mapa abaixo que representa a concentração
de empregos no setor de comércio na cidade. O centro expandido e
bairros como a Sé, República e Brás concentram grande parte das
oportunidades de emprego.
Mas
se os locais de trabalho estão no centro da cidade, onde estão as
casas dos trabalhadores? Ao contrário dos empregos, as casas, se
encontram longe da área central. Estão, em sua maioria, nas
periferias (isso, sem citar a região metropolitana, onde, vivem
também boa parte dos trabalhadores da cidade de São Paulo, ou seja,
moradores da periferia da periferia). Bairros como, São Miguel e
SantoAmaroconcentram, respectivamente, 108.054
e 84.159de
domicílios (IBGE, 2010). Enquanto bairros centrais, como, Liberdade
e República dispõe de, respectivamente, 28.301 e 26.625 dos
domicílios na cidade (IBGE,2010).
A
consequência de se ter trabalhadores morando tão distantes de suas
casas é visível. Enfrentar trens, metrôs lotados e grandes
congestionamentos de carro são parte da rotina de quem sai de casa
nos horários de bater o ponto. O processo que culminou na situação
em que a cidade se encontra é histórico. Conforme o planejamento,
ou a falta dele, a elite se instalou nas áreas centrais, enquanto, a
classe mais baixa, imigrantes, por exemplo, se instalava em áreas
industriais como o Brás, e com o crescimento e encarecimento da
cidade, cada vez mais distante do centro. O contrário acontece em
algumas cidades europeias e norte-americanas, onde, a periferia é
habitada por classes mais abastadas. É possível visualizar esse
tipo de urbanização ao reparar suas casas de famílias classe
média, ou ainda, classe alta. Geralmente, são casas grandes de dois
andares com o clássico jardim a frente, enquanto, seu centro é
habitado por jovens estudantes e pessoas não estabilizadas
financeiramente. Sendo o térreo dos prédios comercial e os demais
andares habitacionais.
Ao
visitarmos o “centro velho” da cidade de São Paulo é possível
constatar que boa parte dos prédios são comerciais. O que explica a
diferença do grande número de pessoas que circulam, em bairros como
República, durante a semana em horário comercial e os poucos
durante os finais de semana. Criar condições e preços honestos
para que as pessoas consigam morar na área central fazendo com que a
utilização do espaço não seja somente comercialsem dúvidas
contribuiria em muito para uma cidade mais justa. Assim como a
descentralização das oportunidades de trabalho.
Ter
uma casa não é ter somente um lugar para dormir, como tem sido para
muitos paulistanos. Morar e morar dignamente é parte importantíssima
para se ter qualidade de vida. Aliás, moradia é um direito
garantido
pelo artigo 6º da Constituição da República:
“Art. 6º São
direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a
moradia,
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição”.
Ter
a possibilidade de morar no centro da cidade significa não só estar
a minutos do local de trabalho mas também de toda a infraestrutura
que dispõe, como ospolos culturais. Como podemos ver no mapa a
seguir, elaborado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
(SMDU), estes também se encontram em maioria na área central da
cidade.
Contra
toda essa organização da cidade de São Paulo podemos destacar os
atores de grande importância, como, os movimentos de moradia,
urbanistas, pesquisadores e professores universitários. Os
movimentos de moradia pressionam, discutem e ocupam. Promovem a
reflexão da situação habitacional da cidade não só em palestras
acadêmicas ou em gabinetes políticos, mas também, nas
manifestações de rua chamando atenção de quem é verdadeiramente
afetado com a situação: o trabalhador. Ocupam prédios em situação
de abandono como forma de protestar e abrigar cidadãos que não
podem arcar com o alto custo de se morar na cidade. Propõem e cobram
medidas dos governantes.
Quanto
ao governo municipal, projetos vem sendo apresentados com olhar mais
atencioso para as questões de mobilidade e moradia. Exemplo recente,
é o Plano Diretor Estratégico (PDE) que tem entre demais propostas
o incentivo à habitação na área central e a criação de polos
descentralizados de emprego. Se os caminhos que a cidade vai seguir
pelos próximos anos serão os indicados pelo PDE não é possível
afirmar. No entanto, a exposição na mídia e os debates gerados
sobre a questão urbana que, o PDE, gerou já garante um grande
passo.
Maíra CunhaGestão de Políticas PúblicasUniversidade de São Paulo
0 comentários