Constituição Federal – O fruto proibido. Mudar o mundo é justiça!

11:26:00

      Abri a Constituição numa aula de Direito Constitucional. Depois de estudado o processo histórico nas aulas de história do colégio, meu cérebro começou a entoar os gritos de Renato Russo questionando: ''Que país é esse?'' Não é, certamente, o país em que meus avós viveram durante boa parte da vida, tampouco meus pais – que nasceram durante a ditadura – e eu, no florescer da democracia, também desconheço.
      Renato ainda gritava em meu cérebro quando me foquei na leitura do primeiro parágrafo da Constituição, e vejamos que o Brasil ''tem como fundamentos: [...] II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana;'' e mais, saibamos os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
''Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. ''
      Logo, um gancho se fez quando me lembrei de uma discussão em que me apresentei favorável ao Bolsa Família e uns senhores (que viveram dentro de suas cavernas durante anos) eram contrários. Não é digno ter uma moradia? Não é digno ter meios para alimentar os filhos? Não é digno se sentir cidadão num país cheio de abismos e carente de pontes? Será que a liberdade do outro em poder ter a livre iniciativa de comprar o que quiser, ou mais: necessita, com o pouco do auxílio governamental me fere? Certamente que não.       
     Promover a dignidade da pessoa humana, ajudando a construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantindo o desenvolvimento nacional, contribuindo na erradicação da pobreza e promovendo o bem de todos é mais do que ideologia política, é Constituição, é justiça.
     Vivemos num país heterogêneo em cor, raça, sexo, ideologia, cultura e diversas outras diferenças que nos homogenizam enquanto povo. Mas pensemos: seria preciso penalizar crimes de racismo no Brasil? Não é um dever intrínseco olhar o outro e enxergá-lo tão igual a mim?
       Cláudia Ferreira da Silva foi arrastada por policiais militares e se tornou: ''A Mulher Arrastada.'' Cláudia era negra, Cláudia era da favela, Cláudia era pobre, Cláudia…era coitadinha…João Hélio era branco, foi arrastado, João Hélio morreu, João Hélio recebeu Cláudia no céu, a mídia emanou: Justiça por João Hélio! Já não sei a quantas anda o processo a respeito da morte de Cláudia…onde anda a senhora Justiça?
      Que país é esse em que a maior parte da população carcerária tem idade e cor? Um país onde ''Somos todos macacos’''? Nem eu, nem Daniel Alves, nem Neymar Jr, nem ninguém é macaco. Nós somos o que somos – iguais a outros sete bilhões do mundo. E ainda assim, não há reconhecimento por parte das pessoas de sua igualdade.
      Recentemente Dilma saudou a 18ª Parada do Orgulho LGBT em São Paulo via twitter. Dilma que vetou o erroneamente chamado ''Kit-Gay'' (que ajudava a promover o bem de todos sem discriminação de sexo no sentido de aceitar as diferenças na luta contra homofobia) numa troca de interesses sujos com a bancada evangélica. Ora, no ano eleitoral nós não nos esqueceremos disso, do trem-bala, da transposição do São Francisco e da forma como o Estado tem se preparado para garantir segurança aos visitantes e proteger-se das manifestações. Ok, segurança aos visitantes, mas e nós que moramos aqui? E nós que construímos esse país?
    E os moradores desabrigados para as obras faraônicas dos estádios? E os protestos que nem começaram mas já estão sendo cercados com técnicas ditatoriais pela Polícia Militar em São Paulo? A ''Copa das Copas'' me parece ser da natureza da Lei Eusébio de Queiroz: Pra inglês ver. Que país é esse que não se constrói para a dignidade de seu povo?
    Como não há uma educação que vise ''ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. '' (Art 205) surge um desafio à minha frente: Ser Gestor de Políticas Públicas de mãos dadas com a Constituição, para servi-la ao povo, para servir ao bem público com o povo. Que país é esse que tem medo de dar o fruto proibido – Constituição – ao povo? Sejamos serpentes e hipnotizemos a Eva com seus direitos e deveres. 
  Lutemos contra nossos moinhos de dignidade humana: a precariedade da saúde, da segurança, do transporte e da educação pública. Nós temos esse direito e esse dever! É preciso bater no peito para mudar este mundo inconcebível chamado Brasil e fazê-lo ser o mesmo da Carta Cidadã, assim, termino com as palavras de Dom Quixote de La Mancha: ''Mudar o mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, não é utopia, é justiça!''.

Philippe de Morais Gama
Gestão de Políticas Públicas
Universidade de São Paulo

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